Capítulo
I
O
infinito antes do início…
Meu nome
é Laaw, dizem que sou um anjo caído, mas, na verdade, sou um
discípulo de Zargo, nem anjo nem demônio – meu mestre não tomou
partido no Grande Conflito entre Deus e Diabo, e muitos, assim como
eu, o seguiram. Assim como os humanos nos reproduzimos através da
união carnal, para isso preciso das fêmeas dessa espécie,
infelizmente, pois esta é inferior a nossa; por esta razão estou na
terra esta noite, a rua está deserta, não há lua e só umas fracas
lâmpadas nos postes iluminam a estrada. Espere!!! Vejo alguém
dobrar a esquina… é uma jovem, está sozinha e parece com medo…
ela é perfeita!
Sou
Anna, estou saindo da casa de uma colega da faculdade, está tarde!
Porque o professor teve que inventar este trabalho? Ele acha que não
temos mais nada para fazer? Bom, agora já está pronto mas demorou
tanto que anoiteceu. Está frio, preciso chegar logo em casa. Tenho
medo de andar sozinha de madrugada. Não vejo uma viva alma na rua,
mas porque estou com a sensação de ser
observada.
Eu
a observo enquanto mantenho certa distância para que ela não
perceba que é seguida. Enxergo muito bem no escuro e posso ver
perfeitamente seu rosto: a pele clara, os olhos castanhos, os cabelos
lisos até os ombros; não sei quanto anos tem mas ela transmite
certa ingenuidade. Como me aproximar? Se ela se assustar tudo estará
perdido. Ela anda depressa sem olhar para trás segue em linha reta e
de repente muda de direção, parece estar tomando um atalho. Talvez
não seja uma boa ideia entrar aí. Sem se dar conta ela passa por
uns garotos, quatro ou cinco, em atitude suspeita e não vê que eles
a seguem. Pode ser a oportunidade perfeita para me aproximar dela.
Sigo
meu caminho sem olhar pra trás, ando depressa porque quero chegar
logo em casa, resolvo tomar um atalho passando por um beco entre dois
prédios altos, já fiz isso antes mas está tão escuro…
Resolvo
intervir. Quatro contra uma é covardia. Não sei o que querem com
ela mas quando se aproximam dela eu apago as poucas luzes da rua com
a força da mente – eu consigo fazer isso, se fosse um anjo eu não
deveria mas eu não sou então… - agora eles não conseguem me ver
e eu posso derrubá-los de uma só vez desenhando um círculo no chão
num golpe rasteiro. Desnorteados, sem saber o que os atingiu eles
saem correndo. Olho para a moça que se encontra paralisada neste
momento. Toco seu braço e digo gentilmente: "- Vem comigo! Eu
tiro você daqui." Inexplicavelmente ela atende meu pedido.
Conduzo-a até uma rua iluminada, ela parece mais calma.
Ouço
um barulho, as lâmpadas dos postes estouram a minha volta. Fico
imóvel no escuro. Sinto alguém passar rápido por mim, depois
percebo outros vultos mas não sei quantos mais. De repente alguém
toca meu braço e me diz com a voz mais suave que já ouvi: "-
Vem comigo! Eu tiro você daqui." Não sei por que mas não
sinto medo. Ele me conduz até a outra rua onde a claridade me
permite ver seu rosto de um branco quase pálido contrastando com os
cabelos negros e lisos. Ele é pouco mais alto que eu e tem porte
esguio. É o máximo que consigo perceber pois ele está usando uma
jaqueta de couro escura. Estou mais calma agora!
—
Você está bem? – decido
perguntar.
—
Ahan… - ela responde quase
sem abrir a boca.
—
O que faz sozinha pelas ruas a
essa hora?
—
Estava voltando para casa –
não acredito que ela respondeu a uma cantada tão barata.
—
Sei que vai parecer estranho
mas se quiser eu posso lhe acompanhar – não sei como ela pode cair
nessa, mas se conseguir convencê-la de que não sou uma ameaça
terei ganho sua confiança.
—
Tem razão é estranho – ela
responde me provando que não será tão fácil.
—
Eu acabo de defendê-la de
quatro caras mau intencionados, acredite eu sou o mocinho... - rio
entre dentes na esperança de que ela ria também.
Ela
ri disfarçadamente mas responde:
—É.
Você não é mau!
—Isso
quer dizer que posso te acompanhar? - eu insisto.
—Vamos
indo… - eu a sigo antes que ela mude de ideia.
—
Você está bem? – ele me
pergunta assim que eu me acalmo.
-
Ahan… - respondo, ainda no automático.
-
O que faz sozinha pelas ruas a essa hora? - ele quer continuar o
dialogo, mas por quê?
-
Estava voltando para casa – digo sem saber se é mesmo o certo a
fazer.
-
Sei que vai parecer estranho mas se quiser eu posso lhe acompanhar –
quando ele diz isso eu começo a ficar desconfiada.
-
Tem razão é estranho – respondo.
-
Eu acabo de defende-la de quatro caras mau intencionados, acredite eu
sou o mocinho… - ele fica sem jeito e ri.
-É.
Você não é mau! - foi a coisa mais estúpida que eu poderia ter
dito, mas agora já foi.
-
Isso quer dizer que posso te acompanhar? - ele insisto.
-
Vamos indo… - eu posso me arrepender desta resposta pois ele começa
a andar junto comigo.
Seguimos
juntos pela rua:
-
Podemos começar com qual é o seu nome? - espantosamente ela
pergunta. Eu nem havia pensado em perguntar mas achei que seria uma
forma amigável de começar. É justo que ela queira saber...
-
Podemos. Me chamo Laaw. E você? - olho nos olhos dela ao perguntar
tentando transmitir segurança.
-
Anna. - ela responde secamante. Cabe a mim manter o diálogo.
-
Mas o que fazia voltando tão tarde pra casa? - acho que estou sendo
repetitivo.
-
Trabalho da faculdade. - noto que ela responde apenas o que pergunto,
sem se prolongar.
-
Você não está muito à vontade com esta situação não é
verdade? - digo isso para que ela saiba que sou observador, as
mulheres gostam disso.
-
Na verdade não é isso – ela faz uma pausa – é que nós
chegamos. Eu moro aqui.
Ele
me acompanha pela rua.
-
Podemos começar com qual é o seu nome? - é assim que começam a
maior parte dos diálogos, não é mesmo. E depois que ele responder
não seremos mais estranhos.
-
Podemos. Me chamo Laaw - ele olha fundo nos meus olhos, quase
intimidador – e você.
-
Anna – apenas respondo desviando o olhar.
-
Mas o que fazia voltando tão tarde pra casa?
-
Trabalho da faculdade. - abrevio a resposta.
-
Você não está muito à vontade com esta situação não é
verdade? - ele pergunda, parece que quer ser gentil.
-
Na verdade não é isso – paro de caminhar – é que nós
chegamos. Eu moro aqui.
Continuamos
conversando em frente a casa dela:
-
Minha vez – ela diz – o que VOCÊ faz na rua a essa hora?
-
Na verdade me perdi procurando um lugar para passar a noite, acabo de
chegar à cidade, estou procurando trabalho – nessa hora eu preciso
mentir, não tem outro jeito, mas acho que me saí bem.
-
Hummm. Então não tem onde ficar essa noite? - me surpreendo com a
pergunta. Acho que será mais fácil do que pensei.
-
Não. Parece que está tudo fechado! - Tento prolongar o assunto.
-
Bem... talvez você possa ficar aqui por esta noite. Amanhã você
procura outro lugar para ficar.
-
Eu não quero incomodar – digo isso, mas na verdade tudo está
correndo como planejei.
-
Só por essa noite não é incômdo algum. Tenho um sofá bem
confortável que você pode usar.
-
Sendo assim, vou aceitar. Estou um pouco cansado. Aquela 'briga'
acabou comigo – digo isso estralando as costas e simulando um
bocejo, na verdade estou tão desperto como se fosse de manhã. Mal
sabe ela que dividirá a cama comigo esta noite.
-
Minha vez – eu digo – o que VOCÊ faz na rua a essa hora?
-
Na verdade me perdi procurando um lugar para passar a noite, acabo de
chegar à cidade, estou procurando trabalho – ele parece um
garotinho assustado quando diz isso.
-
Hummm. Então não tem onde ficar essa noite? - estou começando a
ficar com pena dele.
-
Não. Parece que está tudo fechado! - ele responde desanimado.
-
Bem... talvez você possa ficar aqui por esta noite. Amanhã você
procura outro lugar para ficar – nem acredito que ofereci minha
casa a um estranho, mas não posso deixá-lo vagando pela rua até de
manhã.
-
Eu não quero incomodar – ele responde por cortezia, dá pra
perceber.
-
Só por essa noite não é incômdo algum. Tenho um sofá bem
confortável que você pode usar.
-
Sendo assim, vou aceitar. Estou um pouco cansado. Aquela 'briga'
acabou comigo – ele estrala as costas e boceja, parece mesmo
cansado, melhor subirmos logo antes que ele desmaie na rua.
Cruzamos
um portão e damos poucos passos até a porta da casa que é humilde
mas ajeitada. Ela se demora alguns minutos para encontrar a chave
dentro da bolsa, que imagino, deve ter de tudo lá dentro. Ela gira
chave e empurra a porta com o quadril e a segura aberta com as costas
para que eu possa entrar. Adentro a sala de estar olhando ao redor:
há poucos móveis mas de cara vejo o sofá que ela mencionou, uma
mesa com quatro cadeiras e uma estante com muitos livros, mas o que
estou procurando é a porta que leva ao quarto.
-
O banheiro fica logo ali – ela aponta para uma porta branca que me
lembra um armário.
Finjo
que preciso usá-lo com o pretesto para esquadrinhar a casa. Como
pensei o quarto fica ao lado do banheiro: não é muito grande mas
tem uma cama e isso é o que importa.
Tenho
dificuldades para encontrar a chave entre as tranqueiras da minha
bolsa. Logo que encontro a chave a coloco na fechadura sem demora,
abro a porta com o quadril tentando equilibrar a bolsa aberta
transbordando de tralhas. Fico parada de costas pra porta para que
ela não se feche e espero o forasteiro entrar. Ele olha ao redor
parecendo meio perdido.
-
O banheiro fica logo ali – digo, pressupondo que é isso que
procura e acredito não ter me enganado pois ele se dirije até lá.
Quando
volto para a sala de estar a garota me entrega uma pilha de lençóis
e um travesseiro que eu coloco sobre o sofá.
-
Vou deixá-lo um instante. Preciso tomar um banho urgente, passei o
dia todo fora de casa – ela diz tirando o sobretudo bege e
pendurando num cabide próximo à porta de entrada.
-
Sem problemas.
-
Fique à vontade, se estiver com fome pode pegar o que quiser na
geladeira – ela fala apontando para a copa – também pode ver
alguma coisa na televisão.
Finjo
interesse pegando na mão o controle remoto. Por alguma razão
inexplicável os terráqueos adoram esse aparelho!
Ela
segue para o quarto, foi pegar as roupas. Em seguida vejo-a entrar no
banheiro e ouço logo o barulho de água caindo.
Entrego
lençóis para ele assim que sai do banheiro, ele os coloca de lado
no sofá. Estranho, ele não parece estar com sono, mas eu estou
exausta.
-
Vou deixá-lo um instante. Preciso tomar um banho urgente, passei o
dia todo fora de casa – digo isso enquanto tiro o casaco.
-
Sem problemas – diz. Ele transmite uma tranquilidade assombrosa. Eu
não sei nada sobre esse cara mas não sei por que não tenho medo
dele. Ele é tão ... equilibrado.
-
Fique à vontade, se estiver com fome pode pegar o que quiser na
geladeira – falo apontando para a copa – também pode ver alguma
coisa na televisão. - nesse momento ele pega o controle remoto e
liga a TV, mas não parece muito interessado no que está passando
pois fica mudando de canal, não deve mesmo ter nada de interessante
esta hora.
Vou
até o meu quarto apanhar a roupa para o banho e no piloto automático
entro lo banheiro e ligo o chuveiro. Tiro a roupa e entro no box.
Sinto a água morna tocar meu rosto e isto me desperta. Conforme a
água corre pelo meu corpo sinto-me recobrar as energias. Como é bom
tomar banho. Deslizo a esponja ensaboada primeiro de leve depois com
mais força como se quisesse tirar algo de mim. Lavo os cabelos. Saio
do banho me sentindo renovada. Me seco, visto a camisola e por cima o
roupão atoalhado. Saio do banheiro enxugando o cabelo com a toalha.
Olho para o sofá e vejo uma figura catatônica olhando para o
televisor.
Ela
sai do banheiro mas finjo não notar e continuo “olhando” para a
tela. A TV está quase sem som.
Ela
senta do meu lado e coloca os pés para cima do sofá.
Reparo
que está de roupão, desses felpudos que parecem feitos de toalhas,
ele é curto deixando boa parte das coxas a mostra mas ela não
parece se importar. Desvio o olhar pois nessa hora o instinto
animalesco que me trouxe aqui resolve se manifestar. Ainda é cedo
para ficar excitado, não quero ser violento, quero que ela confie em
mim, pois se fizer a força poderei matá-la e então ela não
servirá para meus propósitos.
-
Está com fome? - Ela pergunta – Vou fazer um café. Quer torradas?
Ela
levanta e vai para a copa; reparo no jeito como ela anda. O roupão
sobe revelando um pouco mais de suas pernas. A fera dentro de mim
quer sair, logo será impossível me controlar.
Ela
retorna minutos depois com duas xícaras de café fumegantes que
exalam um aroma do qual eu gosto bastante. Não estou com fome, não
sinto fome, a não ser dela, mas pego a xícara das mãos de suas,
não está quente, não para mim mas assopro a fumaça antes de tomar
um gole. Expresso um sorriso de satisfação para que ela entenda que
gostei do café. É, acabo de descobrir que gosto de café.
-
E as torradas? – pergunto interessado.
-
É mesmo – ela levanta apressada e corre para a cozinha.
Espio
com o canto do olho e a vejo tirar duas fatias de pão quase
queimadas de uma torradeira dessas americanas.
Disfarço
e ela volta para o sofá trazendo as torradas que tem cheiro de
manteiga.
Sento-me
no sofá ao lado dele. Meu estômago ronca, só então me lembro que
não como nada a várias horas.
-
Está com fome? - pergunto, pois eu estou – Vou fazer um café.
Quer torradas?
Sigo
até a cozinha e passo café. Volto para o sofá levando duas xícaras
muito quentes que tenho medo de derrubar. Ele pega uma, prova e
parece gostar pois sorri.
-
E as torradas?
-
É mesmo – me levanto rapidamente pois as deixei na torradeira e a
essa altura já devem estar queimadas. Vou até a cozinha e pego as
torradas que por sorte estão prontas e no ponto, pelo menos pra mim.
Levo-as para ele na sala.
Mordo
a torrada. Comer não é uma necessidade para mim mas devo confessar
que é muito prazeiroso. Enquanto como imagino como poderei chegar as
vias de fato. É quando me surge uma idéia:
-
Acho que também preciso de um banho, se importa?
-
Lógico que não. Eu já vou me deitar. Fique a vontade.
Deixo
a xícara vazia sobre a mesa de centro, me levanto e vou até o
banheiro. Ligo o chuveiro mas me demoro a entrar enquanto penso em
como levarei a cabo meu plano. Fico nú e entro no chuveiro quase
fervendo. Que sensação maravilhosa! Me demoro a sair do chuveiro,
depois de me secar com a toalha branca, me enrolo nela e saio do
banheiro assim mesmo. Ela disse que iria se deitar então já deveria
estar dormindo quando eu saísse mas para minha surpresa ela está
sala quando eu saio.
-
Pensei que já estivesse dormindo – digo.
-
Eu… perdi.. o sono… - ela fala engolindo saliva entre as
palavras, parece desconcertada.
Ele
parece saborear a torrada como se fosse a melhor coisa do mundo. Ele
corta o silêncio dizendo:
-
Acho que também preciso de um banho, se importa?
-
Lógico que não. - eu respondo - Eu já vou me deitar. Fique à
vontade!
Ele
entra no banho. De repente eu fico nervosa! Começo a andar pela casa
desnorteada. Perco a noção do tempo quando de repente ele sai do
banheiro apenas enrolado na toalha. Inevitavelmente sinto um calor
subir pelo meu corpo. Me sinto atraída por ele.
-
Pensei que já estivesse dormindo – ele diz.
-
Eu… perdi… o sono… - falo de forma quase monossilábica, estou
atônita e não consigo disfarçar.
Dou
um passo a frente e ela não recua. Toco no braço dela sem que ela
se retraia. Pega-a pelo pulso e aproximo seu corpo do meu. Sinto os
músculos enrijecerem e ela começa a exalar o cheiro das fêmeas, os
humanos não sentem esse cheiro mas meus sentidos são mais aguçados.
Nosso rostos ficam bem próximos e eu consigo sentir seu hálito
quente.
De
subto a pego no colo e a levo para o quarto. Se ela fosse gritar esta
seria hora, mas não, é quando percebo que atingi o meu objetivo.
Ele
dá um passo na minha direção, não consigo reagir, parece que
estou hipnotizada. Ele toca meu braço enquanto me olha de um jeito
sedutor e me puxa delicadamente para mais perto de si. Nossos corpos
se tocam. Ele está excitado! Seu rosto fica bem próximo ao meu.
Porque ele não me beija? Quando percebe que estou cedendo ele me
pega no colo e me leva para o quarto. Estou entregue!
Deito-a
suavemente na cama. Está sento tão fácil! Olho profundamente nos
olhos dela enquanto passo a mão entre suas coxas e tiro a calcinha.
Ela arranha com as unhas minhas costas, do que eu gosto. Com a mão
que está livre removo a toalha que me envolve. Ela estende o braço
até a gaveta do criado mudo e apanha um preservativo e me alcança.
Sem perder o contato visual com ela faço-a acreditar que vesti a
camisinha, mas, na verdade, a jogo no chão. Completo o coito. Ela
parece gritar mas nenhum som sai de suas cordas vocais. É
imprescindível que ela sinta prazer, só assim terei certeza que
concluí a tarefa. Prolongo o platô o tempo que é necessário, me
tornei pra ticante do tantrismo para conseguir fazer isso com êxito.
Apenas quando percebo que ela chegou ao orgasmo é que me permito
chegar também. Ela está exausta e por isso adormece quase
instantaneamente; eu, no entanto, poderia continuar por horas. Não
há mais nada o que fazer aqui. Apanho minhas roupas no banheiro e
vou até a janela. Me concentro. A ponta das asas rasga a pele das
minhas costas. Assim que saem totalmente, ruflo-as algumas vezes para
desatrofiá-las, subo no parapeito e alço voo pela imensidão da
noite.
Acordo
meio zonza. Tive um sonho estranho essa noite mas não consigo me
lembrar direito. Quando levanto me dou conta de que dormi de roupão
e que estou sem calcinha. Me visto e vou até a sala. A janela está
aberta, será que esqueci de fechar noite passada. Sobre o sofá vejo
intocada uma pilha de lençóis e um travesseiro. Não foi um sonho!
Volto no quarto e olho o chão ao redor da cama e encontro minha
calcinha e a toalha com que ele se enrolava, quando vou juntá-lo
para colocar no cesto encontro próximo aos objetos o envelope do
preservativo fechado. Desgraçado! Como pude ser tão ingênua? Mas
onde será que ele está? Tenho a impressão de que não voltarei a
vê-lo.
***
Depois
da estupidez que fiz achei melhor fazer uns exames. Mantive relações
com um completo estranho sem preservativo – receita perfeita para
pegar uma doença. Os resultados levam alguns dias para saírem.
Quando os levo para minha ginecologista analisar ela me dá a
notícia.
-
Quanto a doenças venéreas você está limpa, no entanto, você está
grávida. Não sei como o exame detectou, já que pela data que você
deu da sua relação é de poucos dias atrás, mas os níveis de
projesterona estão muito altos. Podemos repetir daqui um mês se
você quiser.
-
Eu vou querer sim. Não é possível! Eu nem estava em período
fértil e meu ciclo é um reloginho.
-
Às vezes a vida nos prega uma peça e isso acontece.
***
Refiz
o exame no mês seguinte e no posterior e todos deram positivos.
Mesmo que não dessem eu já comecei a sentir os sintomas. Tranquei a
faculdade e avisei os meus pais, eles vão vir pra cá quando o bebê
nascer. Eu não trabalho, sou universitária e meus pais bancam tudo,
pensei que eles fosse ficar furiosos mas tudo que eles questionaram
foi quem é o pai. Eu disse a eles que foi um caso de uma noite e que
nem valia pena ir atrás do cara, em parte não é mentira. Mesmo que
eu quisesse não poderia ir atrás dele e acho pouco provável que
ele me procure também.
Ela
não sabe que eu continuo observando-a, apenas para garantir que a
criança nascerá bem. Não tenho nenhum sentimento por ela, não me
preocupo com ela, apenas com a criança. Também não amo esse feto,
ele só me servirá depois de adulto, quando for forte o bastante
para se aliar a nosso exército.
Os
meses passam. Tenho feito o pré natal e vai tudo bem com o bebê, é
uma menina e vai se chamar Laawanna – sei que é cafona mas é o
mínimo que posso fazer pelo homem que não só proporcionou-me a
melhor transa que tive na vida como me deu o meu maior presente.
Embora tenha sido inesperado me sinto tão ligada a essa criança que
jamais me passou pela cabeça a ideia de impedir que ela nascesse.
Não sou cristã fervorosa mas os valores que meus passaram pra mim
são sim importantes. Uma vida já é uma vida desde o instante da
concepção. Levei um tempo para admitir que isso pudesse ter
acontecido comigo mas tão logo se tornou impossível negar o fato
meu instinto maternal começou a falar mais alto.
Vejo
que a gravidez está adiantada. Sei que é uma menina pois a mãe
está decorando o quarto de cor-de-rosa. Sempre achei essa mania
tosca mas os humanos são assim. Eu preferia que fosse homem,
mulheres são sentimentais, isso as enfraquece, mas nisso eu falhei.
Espero que isso não atrapalhe os planos do mestre.
Sinto
as dores do parto. Ainda não está na hora, faltam algumas semanas,
mas o bebê se adiantou. Grito por socorro pois sinto muita dor. Um
vizinho ouve e chama uma ambulância e avisa meus pais. Ambos não
demoram a chegar. Sou colocada às pressas na ambulância pois a
bolsa estourou. Chego berrando de dor ao hospital. O bebê tem pressa
de nascer. Logo ouço o choro forte da nenê que é colocada em meus
braços. Ela é tão linda! Me sinto fraca e a vista começa a
escurecer…
Eu
imaginava que isto poderia acontecer: Ana morreu ao dar a luz.
Humanas são fracas demais e não suportam dar a luz a nefilins. A
menina é grande e forte o que prova que já estava pronta antes de
completar os 9 meses da gestação humana. Nunca entendi porque leva
tanto tempo, talvez porque eu não fui gerado e sim criado. Os pais
de Ana adotaram a menina que recebeu o nome de Laawanna, mas este
será seu nome humano pois eu, que sou seu pai, vou chamá-la de
Miríades pois desejo que ela seja forte como um exército inteiro de
anjos.
Continua...
P.S.: se você tiver alguma sugestão para o título, será bem vinda! Fiquem com Deus e até mais...
Interessante...
ResponderExcluirOs detalhes que mais gostei:
- não enrola, vai direto o ponto
- vamos conhecendo os personagens aos poucos
- maior ênfase dos diálogos
- narração a duas "vozes"
Beijo entusiasmado pela história! ;)
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirFeliz que tenhas gostado! Já tem tanto tempo que escrevi (vistes o segundo capítulo?) Pensei que pudessem achar chato por ter que ler tudo duas vezes... agora que sei que alguém gostou talvez eu retome a escrita.
ResponderExcluirLi o segundo, sim. Continuo à espera de mais. ;)
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